Poderia dizer que a falta de posts, é a culpa de uma mente estéril de idéias e inspiração. Mas isso seria uma mentira. Poderia, ainda, dizer que estou muito ocupado, estudando, trabalhando e namorando. Mas isso também seria mentira, pois eu só reclamo que não tenho tempo, no meu tempo vago. Ou então, dizer que nada de diferente acontece na minha vida, só que também seria uma mentira safada, já que convivo com pessoas bem, digamos assim, pitorescas. Mas a grande verdade, é que existe uma culpada por isso. É a Pri. A Preguiça. Sim, a boa e velha Preguiça. Chamo-a de Pri pelos anos de intimidade que temos, e notem que é escrita com a inicial maiúscula, pois trata-se, pelo menos na minha vida, de uma entidade, quase uma pessoa da família.
Em tese, a Preguiça é a pouca ou falta de disposição ou aversão ao trabalho, demora ou lentidão para fazer qualquer coisa. É o tédio ou a tristeza em relação aos bens interiores e espirituais. É um aborrecimento natural pelo trabalho no dia-a-dia, se o mesmo não tiver seu esforço recompensado. A origem da palavra vem do hebraico: atsêl, que pode ser traduzida por lentidão ou indolência. A preguiça é considerada pecado mortal ao se opor diretamente ao amor a Deus. (Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/preguica.htm)
Na minha vida, a Preguiça atinge níveis alarmantes para as pessoas normais. É algo quase espiritual. Eu não posso evitar. É mais forte do que eu. A Preguiça, inclusive, me afeta familiar e socialmente. Ela me impede de secar o banheiro depois do banho, de dar um destino diferente do chão para as roupas sujas, e ainda, arrumar a mesa depois de comer. Tudo isso faz com que as pessoas que moram comigo, sem motivo aparente, despejem gritos e maldições na minha direção. Não sei por quê.
Agora, então, com meus pais viajando sinto que alguma coisa anda errada. Sempre pensei que jogando a roupa suja no chão, no dia seguinte ela aparecia magicamente, lavada e passada dentro do guarda-roupas, e que as louças, por um processo semelhante, estariam sempre disponíveis no armário. Mas, minha irmã e minha namorada me tiraram desse conto de fadas, e me disseram que para as coisas ficarem limpas, alguém (presumo que eu, ahahaha) teria que limpa-las e olharam pra mim. Aí eu, com cara de espanto, conçando a barba com a mão direita, perguntei a elas, mas quem é que pode fazer isso pra gente, hein? Aí elas começaram a me bater e gritar simultanêamente. Mais uma vez, não entendi nada.
Tirando os aspectos braçais e o meio, sinto que a influência da Pri, não é apenas externa, mas interna também. Às vezes, na maioria delas, quando estou deitado no sofá, jiboiando, o telefone toca. A primeira coisa que me vem à mente é, não é pra mim, foda-se, e o aparelho toca, toca, toca até quase se auto-destruir, mas uma força maior me impede de levantar e acalmar o bichinho. Em outras situações, como caminhar até a geladeira, torna-se algo extremamente sofrível, e é preciso deixar que a fome se apodere de mim, ao ponto de fazer minhas tripas tremerem como se sofressem do mal de parkinson, para que eu consiga me libertar, momentaneamente, da Pri. É como se todo meu corpo conspirasse contra mim. Nos dias em que acordo bem-disposto, ao mesmo tempo, me sinto estranho, e me da medo. Isso não é o meu natural.
Enfim, a Pri e eu somos quase amantes. Certa vez, meu pai, na tentativa de me tirar da minha inércia rotineira, começou a falar coisas do tipo:
"Já imaginou se Einstein, ou Bethoven, ou o Batman fossem preguiçosos, assim como vc?". Sei que ele esperava alguma resposta, mas nenhuma culpa acometeu a minha conciência, o que eu posso fazer?. Minha mãe um dia me disse carinhosamente, daquele jeito que só mãe fala com a gente:
"Um dia tu ainda vai morrer de preguiça fidumaégua". Isso sim é algo sério, por que o que ela quis dizer foi
"Se tu não levantar pra trabalhar e/ou estudar tu tá fodido". Mas, eu sei, que enquanto ainda existirem valores religiosos que proíbam os pais de matarem seus filhos, mesmo que preguiçosos, eu estarei a salvo.